terça-feira, 7 de agosto de 2012

Lições de um palhaço que deixa as empresas sem graça

Lições de um palhaço que deixa as empresas sem graça
Fundador do “Doutores da Alegria” alfineta, com bom humor, algumas particularidades do dia-a-dia nas empresas

Por Pedro Pereira
Entender a necessidade de quem está do outro lado, para então atender suas expectativas. Essa máxima, bastante utilizada no ambiente dos negócios, é vista pelo palhaço Wellington Nogueira como um caminho que leva também a outro destino: a alegria. Há quase 21 anos ele fundou o grupo Doutores da Alegria, que visita crianças hospitalizadas. Neste período, adquiriu experiência suficiente como gestor para afirmar: “Precisamos buscar uma ressignificação para nossa relação com o trabalho”. Nogueira foi um dos palestrantes da ExpoGestão 2012, em Joinville.

doutoresalegria350Entre os diversos aprendizados que Nogueira tira da carreira como “besteirologista”, como se intitula, está a forma como nos  relacionamos com o mundo. “Precisamos reintegrar o que é orgânico para sermos sustentáveis. Crescer muito e de forma rápida demais não é orgânico, pois ninguém saiu correndo da barriga da mãe”, diverte-se. O raciocínio se desenvolve bem humorado até que as reflexões esbarram em um problema sério. Nogueira avalia que o mundo não suportará o ritmo de crescimento atual. “Teremos que fazer escolhas. Nem todo mundo as fará, mas todos pagarão a conta”, sentencia.

No entanto, nem tudo está perdido. O ator, formado nos Estados Unidos, entende que gestores e empresários já estão se conscientizando da importância de reverem conceitos e que em breve, prevê,  veremos mudanças rápidas de comportamento. Afinal, segundo ele, conciliar a alegria e o bom humor com uma rotina de bater metas e cumprir prazos é uma tarefa que qualquer um pode executar. O “besteirologista Doutor Zinho” ensina que a alegria não é, necessariamente, um riso ou uma gargalhada. “Estas são somente expressões de felicidade quando alguém se sente acolhido. O humor saudável acontece de verdade quando você ri de si mesmo porque não se leva tão a sério e, assim, diverte outras pessoas”, explica.

Como gestor, Nogueira utiliza técnicas tão excêntricas quanto a presença de um palhaço usando jaleco em um hospital. Com a ajuda de especialistas – que não eram palhaços, diga-se –, criou um organograma bem apropriado: a semelhança com o formato de uma pizza rendeu o neologismo de “oréganograma”. No centro, as crianças e os palhaços. Ao redor, a administração do projeto. É o que ele chama de plano de carreira para o palhaço. A mudança nasceu da necessidade de dar uma roupagem profissional para a organização, sem, no entanto, copiar os modelos empresariais.

Nogueira acredita que a profissionalização é um caminho natural para as ONGs, tanto quanto a humanização das empresas. Mas o caminho ainda parece longo. “É um desafio muito grande as empresas se humanizarem porque são muito grandes. Eu vejo uma facilidade imensa de dominar discursos, mas não práticas”, analisa.  Nesse contexto, Nogueira vislumbra a potencialidade de iniciativas como a dele se fortalecerem no cenário dos negócios sociais, que geram recursos, resolvem problemas e dão lucro. Ele cita o exemplo da Aliança Empreendedora, que promove educação empreendedora para ONGs, governos e empresas, além de planejar e implantar negócios inclusivos, ou seja, voltados ao público de baixa renda. “É um caminho sem volta”, garante.

A consulta termina com uma frase de difícil contestação, principalmente diante de uma receita simples e funcional como a do Doutor Zinho: “Palhaço é bobo, mas não é burro”.

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